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Papo de Cafezinho - Por Jairo Carioca

O celular é a principal arma do crime organizado

O celular é a principal arma do crime organizado

Mapa da violência mostra a migração do crime das ruas para o mundo digital.

Está com o celular nas mãos? Cuidado! Antes de terminar de ler a mensagem de WhatsApp você pode ser vitima da principal modalidade de estelionato: o golpe virtual. A cada 16 segundos, uma pessoa é vitima desta ação do crime organizado.

O celular virou terreno fértil para golpes virtuais. O anuário da violência mostra um aumento de 8,2% nos crimes de estelionato entre 2022 e 2023, quase 2 milhões de registros ano passado em todo o Brasil. Esses números mostram que, a cada 16 segundos, uma pessoa é vítima dessa nova modalidade de crime. Segundo especialistas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o crime se aproveita, principalmente, de pessoas em vulnerabilidade social, o que talvez, explique, o aumento de 61% dessa modalidade de estelionato no Acre, que tem 417 mil pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza.

Os dados são do Mapa da Violência divulgados essa semana. Embora apontem no caso do Acre, uma diminuição de 2% nos casos de estelionato, 5.538 registros em 2023, apresenta uma variação positiva no caso de estelionato por meio eletrônico, foram 248 registros ano passado.

Embora comuns – como o golpe do perfil falso em que a vítima é chantageada com uso de foto intimas adquiridas pelo criminoso – ou ainda, o golpe do Pix, essas ferramentas estão cada vez mais rebuscadas.

O tema é complexo e tem desencadeado muitos estudos.

O Brasil, por exemplo, que tem, segundo a Fundação Getúlio Vargas, 2.8% do total de celulares em uso no mundo, tem um cenário ideal para o crescimento deste tipo de crime. São milhões de vítimas em potencial.

Segundo Túlio Kahn, membro do FBSP, “a teoria do crime como atividade de rotina diz que para que um crime ocorra é preciso que ofensor e vítima se encontrem num determinado espaço (pouco protegido) e tempo”. O especialista alerta para uma transição dos crimes de contato (nas ruas) – que são potencialmente mais violentos – para os crimes digitais, com menor risco e penas mais brandas para os infratores.

O Acre conseguiu diminuir segundo o Anuário da Violência os roubos e furtos de celulares e de veículos, o que demonstra uma política eficaz no combate aos crimes contra o patrimônio, assim como a queda de homicídios e até de feminicídios. Mas, tem patinado na nova tendência do crime organizado. O anuário deixa claro que é necessário que a segurança pública acompanhe o movimento tecnológico.

Entre um gole e outro de cafezinho, vale lembrar que na República idealizada por Galvez, comenta-se há alguns anos, o pacto entre facções criminosas para evitar contato com as polícias ou a presença das forças policiais nos bairros mais periféricos. A combinação desta tese – negada veementemente pela cúpula da segurança – com a proliferação do uso do celular e o acesso cada vez maior as redes sociais levam a crer que vivemos uma migração de crimes das ruas para o mundo digital, como afirma Túlio Kahn. Se existe algo positivo nisto, é a diminuição do contato violento e a tendência de queda de índices de violência com a previsão de um mundo cada vez mais globalizado, como ocorre em países de primeiro mundo.

Por outro lado, podemos afirmar que a tecnologia também tem agido a favor do cidadão de bem, dificultando roubos em veículos e residências.

A vulnerabilidade social é que preocupa, o analfabetismo digital, idem.

O que os estudos ainda não responderam é se temos um novo perfil de criminosos, mais jovens, ou se os antigos estelionatários se especializaram nesta nova modalidade.
Não precisa ser especialista em segurança pública para entender a troca dos roubos pelo estelionato.

Jairo Carioca é jornalista, escritor e assessor de imprensa. Colabora semanalmente com o NH.

Rio Grande do Sul, lições de uma tragédia com dimensão humana nunca descrita em números

Rio Grande do Sul, lições de uma tragédia com dimensão humana nunca descrita em números

Estudo que previu cenário catastrófico na região do Sul e que custou R$ 3,5 milhões aos cofres públicos foi engavetado em 2016. Quase dez anos depois, Marina Silva diz que vai atualizar o “Plano Brasil 2040”. O cenário devastador da cidade gaúcha faz muitos negacionistas morderem a língua. A ONU afirma que o desastre é um “lembrete” dos efeitos devastadores das alterações climáticas.

Rio Grande do Sul é o Brasil e a pauta dessa tragédia, assunto mundial. O que o governo federal e o Congresso Nacional fazem pós-inundações é o mínimo diante de um flagrante de descontinuidade de projetos climáticos dos governos petistas e uma situação que poderia ter sido evitada. O Plano Brasil 2040 que custou R$ 3,5 milhões aos cofres públicos – que projetou cenário semelhante ao que se vê em 2024 – nunca saiu do papel e, pasmem, foi engavetado em 2016 no governo Dilma Rousseff (PT).

O estudo, previu escassez de chuvas na região Norte e chuvas acima do normal no Sul do país.

Quase dez anos depois – após as chuvas atingirem 164,5 mil pessoas, o registro de 107 óbitos, 136 pessoas desaparecidas e prejuízos estimados em R$ 17 bilhões somente na área de infraestrutura, a ministra Marina Silva disse que vai atualizar o Brasil 2040. A gestão que tanto fala em meio ambiente foi pega de calças curtas.

Claro que neste momento não vamos repetir o mesmo erro de Marina Silva que, em entrevista a CNN, culpou o ex-presidente Jair Bolsonaro pelos eventos climáticos extremos na região Sul. Afirmou que houve um apagão entre 2018 e 2022 com relação a pauta ambiental.

Não cabe a busca por culpados e nem apenas contabilizar corpos, danos materiais, psicológicos, sociais. A tragédia que atinge Rio Grande do Sul tem dimensão humana que nunca será descrita em números.

O Brasil viverá uma escassez de alimentos e preços altos de gêneros de primeira necessidade. Ainda não está contabilizado a interrupção de setores produtivos, impactos que vão gerar uma fatura indesejável na mesa do brasileiro.

Dizem que não há um mal que não traga um bem.
Não era para ser assim, talvez, mas, em meio ao cenário de guerra, algumas lições vão servir como reflexão. A primeira delas de sustentabilidade para negacionistas do aquecimento global. Outra advertência é sobre o propagado arcabouço fiscal, a necessidade de reservas para atender situações extremas em um país tão cheio de adversidades geográficas. O dilúvio que caiu em Rio Grande do Sul não resiste a tantas burocracias.

Politicamente falando, só a natureza para romper a pauta da guerra de egos entre os poderes constituídos que agora encenam uma união pela reconstrução do Rio Grande do Sul. Quem vai pagar essa fatura de R$ 17 bilhões?

Quando a gente pensa que a pandemia da Covid-19 tinha ensinado tudo, ou praticamente tudo, estamos novamente diante de um exercício enorme de amor ao próximo. Esse é um assunto que vai muito além da guerra extremista travada nas redes sociais por lulistas e bolsonaristas.

E cá pra nós, quantas atitudes imorais, diria até que nojentas nessa guerra de Fake News diante de um assunto tão delicado que atingiu níveis trágicos. Perderam a noção.

Esse pedaço do Brasil é de todos nós, essa conta chegará na mesa de todos os brasileiros. Quantas catástrofes serão necessárias para ativar a gestão preventiva. Inadmissível em plena evolução tecnológica, um estado tão desenvolvido ser surpreendido pela natureza.

Que este “lembrete” esteja na mesa da COP 29 que acontecerá em Belém, no Pará. Caberá a este evento, a definição do novo objetivo quantificável de financiamento do clima.

Tomara que o bom açaí com peixe frito servido no Ver-o-Peso, inspire mais ambição dos países ricos na hora de liberar verbas para conter as severas mudanças climáticas.

E como perguntar não ofende.
Será que o governo federal não vai engavetar o projeto de prevenção apresentado pelo governador Gladson Cameli para as nossas bacias hidrográficas?

* Jairo Carioca é jornalista, escritor e assessor de imprensa. Colabora com o NH semanalmente.