Hoje foi outro dia em que fui obrigado a pagar o café mais amargo do país, não pelo sabor, mas pelo preço. Um daqueles voos da madrugada, conexão em Brasília, as 5h25 de uma manhã fria de 17ºC. Não tem saída, o jeito é pagar R$ 10, R$ 15 ou até mais por um mísero cafezinho.
Pior que isso virou rotina em terminais aéreos do país. Tornou-se natural. Encontrei uma penca de acreanos que sem alternativa entre uma conexão e outra, experimentavam mais uma vez esse gosto amargo no bolso. Pelo menos aqui – se isso serve de consolo – tem um combo de cuscuz com direito a uma proteína, o que nos faz lembra a velha baixaria do Mercado do Bosque.
Bem agasalhados, entre um gole e outro de café, procurávamos explicação para essa exploração. E a desculpa é sempre a mesma: aluguel caro, custos operacionais elevados, público cativo.
Não estamos falando de uma bebida gourmet, com grãos especiais, tipo os fabricados pela Luciana do Café Contri. É o mesmo pingado de sempre, igual ao que é vendido do lado de fora do aeroporto por R$ 3 ou no máximo R$ 4.
Pagamos pela embalagem de luxo?
Vivenciamos uma lógica diferenciada da realidade do brasileiro de classe média, que já viaja com tanta dificuldade, muitas vezes, uma vez por ano, com a família. E olha que nem computamos os atrasos de voos, a espera demorada das conexões, principalmente, de quem sai do Acre para o sul, sudeste ou nordeste do Brasil.
Não é só o café. É o reflexo de um país que ainda confunde conveniência com oportunismo.
Outro dia, conversando com a presidente do Procon, Alana Albuquerque, mencionei o absurdo que é pagar R$ 6 por uma garrafa de água mineral no Via Verde Shopping, em Rio Branco. Ela, de forma serena, comentou que os demais estabelecimentos acabaram por igualar os preços. E assim, naturalizamos mais uma aberração.
Rimos do preço, pagamos e seguimos cada uma para o seu portão de embarque.
O problema é que o café caro é um dos sintomas. O diagnóstico é mais profundo: aceitamos pagar caro por serviços básicos, desde que venha com a etiqueta de "aeroporto", “shopping” ou “exclusivo”.
Não é pelo café. É pelo direito de não ser explorado.
Jairo Carioca é jornalista, escritor e assessor de imprensa. Autor do livro: Vovô Irineu, todos vão se recordar e começar do abc.