A inauguração do Complexo Industrial do Café do Juruá, em Mâncio Lima, marcou um passo histórico para a agricultura familiar da Região Norte. E foi com entusiasmo que a diretora de Economia Sustentável da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Perpétua Almeida, celebrou o momento. “Este complexo é mais do que concreto e máquinas. É a prova viva de que é possível gerar riqueza sem devastar, desenvolver sem excluir, e crescer com justiça social”, afirmou.
A estrutura inaugurada neste sábado, 28, tem capacidade inicial para beneficiar até 21 mil sacas de café por ano, incluindo cafés do tipo commodity e especial. Com um investimento de R$ 40 milhões, o complexo deve gerar cerca de 2 mil empregos diretos e indiretos em municípios do Acre e Amazonas, como Cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves, Porto Walter, Marechal Thaumaturgo e Guajará (AM).
Perpétua destacou o modelo adotado como referência para o Brasil: “Estamos vendo aqui um exemplo de política industrial com alma. Um projeto que alia inovação, cooperativismo e sustentabilidade, feito com e para os pequenos produtores. Este é o futuro que queremos para a Amazônia.”
O projeto, coordenado pela Coopercafé, une pequenos e médios cafeicultores em uma rede baseada na gestão coletiva e práticas produtivas sustentáveis. A cooperativa já atraiu empresas como o Café Contri, que adquiriu 350 sacas produzidas na região.
A colheita deste ano em Mâncio Lima está estimada em 30 mil sacas – aproximadamente 1.800 toneladas. Atualmente, quatro empresas atuam no município na torrefação e comercialização do café. Marcas locais como Café do Juruá e Café Vó Raimundo têm conquistado espaço no mercado nacional.
De acordo com dados do IBGE, o Acre produziu 4.921 toneladas de café em 2024, um crescimento expressivo frente às 3.079 toneladas do ano anterior. A produtividade, que em algumas propriedades ultrapassa 100 sacas por hectare, revela o potencial da atividade como uma alternativa viável e lucrativa para famílias rurais.
Perpétua também destacou que o projeto em Mâncio Lima é apenas o início de uma estratégia mais ampla: “Vamos levar essa transformação ao Baixo Acre com um novo polo industrial em parceria com a Cooperacre. Serão mais famílias incluídas, mais renda gerada, mais dignidade no campo.”
A proposta de expansão contará com o envolvimento de cerca de 3 mil agricultores familiares e pretende consolidar a cafeicultura como eixo estratégico de desenvolvimento sustentável na região Norte.
Presente ao evento, o deputado estadual Edvaldo Magalhães, também produtor rural, reforçou a importância econômica da atividade. Em 2024, sua produção foi comercializada por mais de R$ 2 milhões.
Para Perpétua, o potencial do café amazônico vai além do mercado. “Este café carrega o sabor da floresta, da resistência dos povos da Amazônia e da esperança de uma nova economia para o Brasil. Estamos plantando hoje o que colheremos como soberania, prosperidade e justiça social no amanhã”, concluiu.