A hanseníase, doença infecciosa crônica causada por bactéria e conhecida historicamente como lepra, ainda carrega um pesado estigma social mesmo sendo 100% curável. Para combater a desinformação e reforçar a importância do diagnóstico precoce, a Câmara Municipal de Rio Branco promoveu nesta terça-feira, 17, uma edição especial da “Tribuna Popular” com o tema “Hanseníase tem cura”, proposta pelo vereador João Paulo Silva (Podemos).
A ação faz parte da Semana Municipal de Conscientização, Prevenção e Combate à Hanseníase, que visa alertar a população da capital acreana sobre a importância do conhecimento, do acolhimento e da descentralização do atendimento à doença — que ainda atinge milhares de pessoas no Brasil, com destaque preocupante para o Acre, estado com a maior taxa de casos a cada 100 mil habitantes, segundo dados do Ministério da Saúde.
João Paulo destacou o peso histórico do preconceito que ronda a hanseníase e defendeu ações concretas para garantir o acesso mais fácil ao diagnóstico e tratamento. “A gente precisa desmistificar que a hanseníase não tem cura. Ela tem cura sim. Ainda existe preconceito, e isso é um reflexo da falta de informação. É inadmissível que hoje, em pleno 2025, tenhamos pessoas sendo contaminadas pela hanseníase por falta de acesso à saúde e informação”, afirmou o parlamentar.
O parlamentar cobrou ainda do poder público municipal que amplie e descentralize o atendimento, que hoje ocorre majoritariamente em unidades vinculadas ao Estado. “É necessário que as unidades básicas de saúde do município sejam preparadas para identificar e tratar os casos. A hanseníase precisa estar na pauta do dia”, reforçou.
A sessão contou também com a presença de representantes do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), que compartilharam histórias pessoais e dados alarmantes.
João Pereira, que conviveu com a hanseníase e hoje atua como ativista, emocionou os presentes ao relatar os anos de isolamento que viveu na infância. “Eu fiquei dos 9 aos 18 anos isolado, sem poder chegar perto da minha mãe. Hoje ando de cabeça erguida, mas o preconceito ainda existe. A hanseníase tem cura, mas o preconceito não. Ele só diminuiu um pouco. Muitos olham para minhas mãos, que ficaram com sequelas, e pensam que ainda estou doente. Isso mostra o quanto é importante informar a população”, disse.
Já Elson Dias, coordenador do Morhan no Acre, destacou os desafios enfrentados pelas pessoas diagnosticadas e defendeu a descentralização do atendimento como estratégia fundamental para a prevenção e tratamento adequado. “Muitos só chegam ao centro de referência quando a doença já causou sequelas. Precisamos de atendimento nas unidades de saúde dos bairros, nas comunidades. Os municípios precisam assumir sua parte nesse enfrentamento.”
A hanseníase continua sendo uma questão de saúde pública urgente no Acre. A taxa de detecção no estado é a mais alta do Brasil, com incidência elevada especialmente nos municípios de Rio Branco e Cruzeiro do Sul. O dado contrasta com a realidade de um país que tem à disposição, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), tratamento gratuito e eficaz.
A doença, quando identificada precocemente, pode ser tratada com antibióticos e não deixa sequelas. No entanto, o preconceito e a desinformação muitas vezes afastam os pacientes do diagnóstico, aumentando os riscos de complicações irreversíveis.
A Tribuna Popular deixou claro que a luta contra a hanseníase vai além do campo médico: é uma luta social. Envolve quebrar tabus, combater o estigma e garantir que todos tenham acesso igualitário ao atendimento.
“O preconceito é o maior obstáculo”, resumiu João Pereira. “A doença tem cura. O preconceito, ainda não — mas pode ser vencido com conhecimento, empatia e políticas públicas eficazes.”
A sessão foi encerrada com um apelo do vereador João Paulo à imprensa, às autoridades e à sociedade civil: “A pauta não é minha. A pauta é de todos nós. Vamos dar visibilidade a essa causa. É hora de curar não só a doença, mas também a ignorância que a cerca.”
O tratamento para hanseníase é gratuito e está disponível pelo SUS. Ao identificar manchas esbranquiçadas ou avermelhadas na pele, dormência ou perda de sensibilidade, procure uma unidade básica de saúde. Quanto mais cedo o diagnóstico, mais eficaz será o tratamento — e menores as chances de sequelas. “Hanseníase tem cura. O preconceito, não. Mas juntos podemos vencê-lo”, concluiu o vereador.