A Bolívia se aproxima das eleições gerais de 17 de agosto em meio a uma profunda fragmentação política. Com a esquerda dividida e o ex-presidente Evo Morales incentivando o voto nulo, o país vive um cenário que pode encerrar quase duas décadas de hegemonia do Movimento ao Socialismo (MAS). Na dianteira das pesquisas está o empresário Samuel Doria Medina, representante da direita tradicional, que lidera a corrida presidencial.
Além da presidência e vice, os bolivianos irão às urnas para escolher 130 deputados e 36 senadores. A campanha de 2025 é marcada por rupturas internas na esquerda e pela consolidação de candidaturas conservadoras, em um país que faz fronteira com os estados brasileiros do Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Fundador e principal liderança do MAS, Evo Morales está fora da disputa após ser barrado pela Justiça Eleitoral por já ter exercido três mandatos. Politicamente isolado, o ex-presidente responde a um processo por estupro de menor — acusação que nega — e acusa antigos aliados de perseguição. Sem candidatura, passou a defender o voto nulo e a organizar manifestações contra o governo.
Em junho, protestos liderados por Evo bloquearam rodovias por mais de duas semanas, resultando em pelo menos quatro mortes. Após romper com Morales, o atual presidente Luis Arce desistiu da reeleição e indicou o ex-ministro Eduardo De Castillo, que aparece com apenas 2% nas intenções de voto.
Outros nomes da esquerda também tentam se viabilizar. Andrónico Rodríguez, presidente do Senado e ex-aliado de Evo, agora no partido Alianza Popular, caiu de 14% para 6% nas pesquisas, sendo atacado por Morales como “traidor”. Já Eva Copa, ex-presidente do Senado e atual prefeita de El Alto, fundou o partido Morena, mas retirou sua candidatura em julho por falta de estrutura nacional.
Como o sistema eleitoral boliviano é proporcional com lista fechada vinculada ao voto presidencial, o desempenho dos candidatos à presidência impacta diretamente a composição do Congresso.
Direita lidera e pode definir novo rumo político
Com a esquerda fragmentada, a direita boliviana ganhou força. Segundo pesquisa divulgada pelo jornal El Deber no domingo, 3, Samuel Doria Medina (Alianza Unidad) e Jorge “Tuto” Quiroga (Alianza Libertad y Democracia) somam cerca de 47% das intenções de voto.
Medina, que foi segundo colocado nas eleições de 2014, é um empresário influente e ex-ministro das privatizações dos anos 1990. Quiroga, por sua vez, foi presidente entre 2001 e 2002 e atuou como porta-voz internacional do governo interino de Jeanine Áñez, em 2019.
Para vencer no primeiro turno, é necessário obter 50% dos votos mais um, ou 40% com uma vantagem de 10 pontos sobre o segundo colocado. Caso contrário, o país terá um segundo turno inédito, marcado para 19 de outubro.
A eleição de 2025 será o primeiro grande teste da Constituição plurinacional aprovada em 2009, durante o governo Evo Morales, que reconheceu oficialmente a diversidade étnica da Bolívia.