A Caravana da Integração no Peru marcou um dos capítulos mais importantes da história recente do Acre. Composta pelo deputado estadual Luiz Gonzaga Alves Filho, a comitiva contou ainda com o secretário de Planejamento, Ricardo Brandão dos Santos, o secretário de Segurança, José Américo Gaia, e o secretário adjunto da Casa Civil, Ítalo Medeiros e pelo secretário de Ciência, Indústria e Tecnologia, Assur Banibal Barbary.
A missão ganhou força em 2024, com a adesão de secretários de Estado e o apoio do governo do Acre, culminando em uma grande expedição internacional de reconhecimento.
O trajeto desafiador
Durante 14 dias, a comitiva percorreu mais de 2.800 km de estradas peruanas, enfrentando montanhas, serras e vias ainda precárias que dificultam a ligação entre as cidades vizinhas. A caravana partiu de Pucallpa em direção a Atalaya — um trecho de aproximadamente 600 km de estrada — e seguiu até Satipo. Nesse percurso, os integrantes também navegaram por mais de três horas sobre o Rio Tambo, conhecendo de perto a importância das vias fluviais que conectam comunidades ribeirinhas e podem, futuramente, integrar os dois países.
Além do deslocamento terrestre e fluvial, a agenda incluiu visitas a comunidades tradicionais, como a Santavankori, no distrito do Rio Tambo, onde os acreanos foram recebidos com homenagens e café da manhã típico. O contato reforçou o caráter humano da missão: ouvir os povos que vivem nas fronteiras e sofrem com a falta de acesso a serviços básicos.
Encontros e diplomacia
O ponto alto da caravana foi o encontro em Lima com a presidente do Peru, Dina Boluarte, que recebeu a comitiva acreana para tratar de projetos de cooperação. Na ocasião, a vice-governadora do Acre, Mailza Assis, também esteve presente, reforçando a importância política e institucional do movimento.
O diálogo consolidou compromissos de integração não apenas rodoviária e fluvial, mas também ferroviária e aérea, alternativas que podem transformar a logística do Acre e tirar do isolamento municípios como Santa Rosa do Purus, Porto Walter, Marechal Thaumaturgo e Jordão.
Outro destaque foi a recepção em Atalaya, onde autoridades locais, empresários e comunidades se reuniram em solenidade para homenagear a delegação brasileira. O prefeito Francisco Mendonza entregou o título de cidadão honorário ao deputado Luiz Gonzaga e demais representantes da comitiva, reconhecendo o esforço em estreitar laços binacionais.
Vozes locais
Durante a recepção em Atalaya, um líder indígena que vive na fronteira entre o Brasil e o Peru fez um desabafo que chamou atenção da caravana. Ele relatou o abandono sofrido pelas aldeias da região, que convivem com a pobreza extrema e a ausência de vias de acesso. Para se deslocar até Cruzeiro do Sul, por exemplo, a população enfrenta até 28 horas de viagem em peque-peque, pequenos barcos que revelam o desafio logístico vivido diariamente.
O sonho da Ferrovia Transcontinental
Entre os projetos discutidos durante a caravana, ganhou destaque a Ferrovia Transcontinental Peru–Brasil, uma proposta ambiciosa que pode redefinir a infraestrutura e o desenvolvimento econômico da América do Sul. Inspirado no modelo chinês de corredores de desenvolvimento, o projeto prevê uma rede ferroviária de alta velocidade integrada a sistemas de energia, telecomunicações, agroindústria e cidades planejadas.
Três rotas foram estudadas para conexão entre os dois países a portos peruanos, e a alternativa Norte, que conecta o Brasil ao porto de Bayóvar, foi considerada a mais viável, tanto técnica quanto economicamente.
De acordo com os estudos, a ferrovia pode gerar mais de 193 mil empregos durante a construção e outros 33 mil anuais na fase de operação, beneficiando diretamente mais de 770 mil pessoas. Além disso, deve impulsionar setores estratégicos como a siderurgia, a construção civil, a indústria de energia e o agronegócio.
No Peru, regiões como Ucayali devem ganhar protagonismo com novos parques industriais, áreas agroflorestais e polos ecoturísticos, ampliando oportunidades de negócios e valorizando a biodiversidade amazônica. Mais do que benefícios econômicos, a ferrovia fortalecerá a integração sul-americana, aproximando o continente de grandes blocos comerciais internacionais e colocando a região em um novo patamar de competitividade global.
Perspectivas para o futuro
O secretário adjunto da Casa Civil, Ítalo Medeiros, engenheiro civil e especialista em pavimentação, também avaliou positivamente o percurso. Para ele, a abundância de insumos encontrados na região pode ser determinante para resolver antigos gargalos de infraestrutura no Acre. "Temos uma abundância de material que pode resolver o problema das nossas vias. Uma ligação terrestre com ferrovia, por exemplo, pode viabilizar a chegada desse material mais próximo. A menos de 200 quilômetros, temos uma gama de produtos capazes de solucionar definitivamente a escassez de pedra em nossa região. Enxergo aqui uma excelente oportunidade para resolver esse gargalo histórico", destacou.
A caravana da integração não foi apenas um ato simbólico, mas sim um mapeamento detalhado de rotas e oportunidades. O objetivo é criar novos corredores econômicos, fortalecer a exportação da produção familiar acreana e aproximar os mercados. Ao mesmo tempo, o projeto prevê ganhos sociais, garantindo acesso a comunidades isoladas e estimulando a cooperação fronteiriça.
O deputado Luiz Gonzaga resume a essência da missão: “Não se trata apenas de construir estradas ou abrir fronteiras comerciais. Trata-se de dar dignidade às populações que vivem isoladas, de mostrar que o Acre pode ser protagonista na integração entre Brasil e Peru.”
Já o secretário de Planejamento, coronel Ricardo Brandão, enfatizou o caráter estratégico da viagem. "A viagem tem sido muito proveitosa porque o grande objetivo dela era conhecer as principais rotas que podem interligar o Acre com o estado de Ucayali, no Peru. Hoje estamos a caminho de Atalaya, que fica a apenas 180 quilômetros da fronteira de Foz do Breu. É possível, sim, tornar essa rota uma realidade, garantindo circulação de riquezas e mercadorias entre o Acre e o Ucayali, passando por Atalaya em direção ao centro-sul do Peru. Nossa comitiva está muito otimista com as possibilidades de desenvolvimento para a região", afirmou.