O líder indígena Isaka Ruy, da Aldeia Me Nia Ibu (São Francisco), do povo Huni Kui, em Feijó, interior do Acre, está sendo acusado de estupro pelo
turista chilena Loreto Belén Manzo. Ela relatou o ocorrido em um vídeo publicado em seu Instagram e registrou um boletim de ocorrência contra Isaka.
No dia 23 de junho, Loreto Belen procurou a delegacia para fazer a denúncia. A Polícia Civil de Feijó informou que instaurou um inquérito.
Em seu depoimento, a chilena disse que chegou na aldeia no dia 15 de maio e, no dia 19, viveu a primeira situação de assédio.
“Cheguei à aldeia San Francisco no dia 15 de maio. No dia 19, Isaka ruy, ele tomou dois banhos medicinais, um dos quais envolveu inserir as mãos nos meus genitais. Tenho vídeos disso. Achei normal porque não pensava mal dele. Alguns dias depois, fizemos uma dieta nas profundezas da selva por seis dias. Lá, ele tentou me beijar, e eu fiquei muito confusa”, disse.
Loreto confirmou que na noite do ocorrido, teria tomado a “medicina” da floresta. “ Ele me mostrou suas verdadeiras intenções. Então voltamos para casa e consegui falar com a esposa iriki, a mãe e o pai dele. Todos se desculparam profusamente e me disseram para apagar o vídeo. Eu o apaguei, mas o havia enviado como backup para outra pessoa por motivos de segurança.
Belén relatou que depois de todos os pedidos de desculpas, eles disseram que ela poderia participar da experiência sem pagar.
“Eu queria ficar mais tempo porque ia aprender, e ainda sentia que não estava cumprindo meu objetivo. No entanto, fui me hospedar na casa do irmão dele e da esposa dele. Depois de um tempo, vi muitas coisas na medicina de Isaka e quis conversar com ele... porque sentia uma profunda irmandade por ele. Então ele me disse que poderíamos conversar perto da árvore samauma, que fica no meio da selva, a uns 20 minutos de caminhada da casa. Fomos até lá e eu contei a ele tudo o que a medicina havia me mostrado. E ele começou a me dizer que queria que eu fosse sua parceira, que sentia amor, que queria tudo comigo, e então eu lhe disse que éramos irmãos, que não éramos”.
A turista salientou que após esse encontro, ele começou a se ‘jogar’ em Manzo, lhe beijando e apalpando até o estupro, alegado pela turista.
“Depois de alguns minutos, Iriki chegou e me bateu com um pedaço de pau gigante. Saí correndo de lá e fui para a casa dos meus pais. Quando eles voltaram, ela só queria que eu fosse embora, e ele também. Mandaram alguém buscar minhas coisas na casa do irmão dele, mas ele não quis fazer isso. No dia seguinte, a mãe dele roubou meu celular porque continha evidências do abuso e de que eu havia sido espancada. Esperei mais alguns dias para receber meu telefone de volta, mas ninguém atendeu. Finalmente, fui embora, registrei um boletim de ocorrência e voltei para o Chile”, concluiu.
O delegado Dione dos Anjos Lucas, que investiga o caso, explicou que a vítima foi ouvida na delegacia, fez exames médicos no hospital do município e apresentou vídeos gravados nos momentos do abuso.
Isaka negou o crime, disse que prefere não falar sobre o caso e que já há um processo em andamento. Ele é procurado pela Polícia Civil de Feijó para prestar esclarecimentos sobre os fatos. A turista recebeu ainda apoio e assistência do Departamento Bem Me Quer da Polícia Civil, que auxilia mulheres em situação de vulnerabilidade, e do Organismo de Políticas Públicas para Mulheres (OPM).