Réus responderão por homicídio duplamente qualificado e fraude processual
Está marcada para a próxima segunda-feira, 14, a audiência de instrução do processo que investiga a morte da enfermeira Géssica Melo de Oliveira, de 32 anos, assassinada após furar um bloqueio policial no município de Capixaba, interior do Acre, no dia 2 de dezembro de 2023. Os policiais militares Gleyson Costa de Souza e Cleonizio Marques Vilas Boas, réus no caso, são acusados de homicídio duplamente qualificado e fraude processual.
A audiência, que ocorrerá por determinação do juiz Romário Divino Faria, da Comarca de Senador Guiomard, será decisiva para definir se os dois acusados irão ou não a júri popular. Os policiais alegam legítima defesa, mas as investigações conduzidas pelo Ministério Público do Estado do Acre (MP-AC) e pela Polícia Civil apontam para uma conduta dolosa, com indícios claros de intenção de matar.
Na noite do crime, Géssica, que dirigia sozinha pela BR-317, foi seguida por uma viatura da Polícia Militar após, supostamente, não obedecer a uma ordem de parada. A perseguição terminou com a enfermeira baleada e morta nas proximidades de Senador Guiomard. À época, os policiais afirmaram que a vítima estava armada e representava uma ameaça.
Pouco tempo depois, uma pistola 9mm — de uso restrito das forças armadas — foi encontrada perto do local da abordagem. Porém, laudos da perícia criminal comprovaram que a arma não pertencia à vítima e que seu DNA não foi encontrado nela. Traços genéticos masculinos foram identificados no armamento, no carregador e nas munições. O carro dirigido por Géssica foi atingido por 13 disparos.
Durante a tramitação do processo, a defesa dos acusados tentou, sem sucesso, anexar informações sobre o possível histórico psicológico de Géssica e solicitou a reprodução simulada dos fatos, a requisição de dados do DETRAN e o oficiamento de GPS do veículo. Todos os pedidos foram negados pelo juiz, que considerou tais medidas inadequadas e desnecessárias, reforçando que a audiência de instrução será o momento oportuno para esclarecer os fatos.
O Ministério Público, representado pelos promotores Vanderlei Batista Cerqueira e Daisson Gomes Teles, destacou que as tentativas da defesa visavam apenas "manchar a honra da vítima" e que tais abordagens promovem a revitimização, não só de Géssica, como de seus familiares.
Os policiais Gleyson Costa de Souza e Cleonizio Marques Vilas Boas foram denunciados formalmente pelo MP em julho de 2024. Além do homicídio de Géssica, Cleonizio responde por outro caso envolvendo a morte de um adolescente em Brasiléia, em 2020, mas esse processo foi arquivado por falta de provas. Desde dezembro de 2023, os dois estão em prisão domiciliar por decisão da Justiça. Se forem levados a júri e condenados, podem perder os cargos públicos e pagar indenização à família da vítima no valor de R$ 100 mil.