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POLÍCIA

Expansão do crime: Facções cariocas levam guerras para outros estados, incluindo o Acre

Expansão do crime: Facções cariocas levam guerras para outros estados, incluindo o Acre

A nova geografia do crime

Uma investigação conduzida o pelo jornal Extra revelou como facções criminosas do Rio de Janeiro, especialmente o Comando Vermelho (CV) e o Terceiro Comando Puro (TCP), têm exportado suas guerras para além das fronteiras fluminenses. O levantamento aponta que Espírito Santo, Minas Gerais, Ceará, Bahia e Acre são os estados mais afetados por essa expansão, marcada por tiroteios, mortes violentas, extorsões e ocupação de territórios.

Segundo o coordenador da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Acre, Alcino Sousa Júnior, atuação do TCP foi minimizada após a captura de Acreanos que atuavam como “embaixadores” e, desde então, tem sido monitorada de perto:

“Essas facções vêm para cá e tentam implementar o domínio territorial, bem mais lucrativo que o tráfico de drogas. Por isso, temos intensificado o monitoramento para impedir que o cenário do Sudeste se repita por aqui.”

Do Rio para o país: uma guerra em expansão

No Espírito Santo, a influência das facções do Rio tem deixado um rastro de medo. Um dos casos mais chocantes foi o assassinato da menina Alice Rodrigues, de 6 anos, morta a tiros após o carro de sua família ser confundido com o de rivais. Segundo a polícia, o ataque foi ordenado por traficantes do Primeiro Comando de Vitória (PCV), aliados ao Comando Vermelho, sob comando de Sérgio “Cauê” Silva Filho, atualmente foragido na Rocinha.

O subsecretário de Segurança capixaba, Romualdo Gianordoli Neto, explica que a facção tem agido com táticas aprendidas nas comunidades cariocas, incluindo o envio de fuzis — um carregamento de 40 armas chegou ao estado no início do ano.

Casos semelhantes também se multiplicam em Minas Gerais, onde o CV e o TCP se associaram a grupos locais, transformando cidades antes pacatas em zonas de guerra. Em Rio Pomba, um tiroteio durante o carnaval deixou 15 feridos e uma jovem morta. Segundo o Ministério Público mineiro, há até pagamento de “mensalidade” de R$ 500 para manter vínculo com o CV no Rio.

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No Ceará, “muita bala no Comando Vermelho”

No Ceará, o Terceiro Comando Puro se uniu à facção Guardiões do Estado (GDE), iniciando uma aliança formalizada em vídeo nas redes sociais, onde criminosos fortemente armados declararam guerra ao CV. O líder do TCP na Maré, Edmilson “Cria” Oliveira, aparece nas imagens gritando: “Agora o Ceará é Terceiro Comando Puro! Muita bala no Comando Vermelho!”.

Dias depois, ele foi morto em uma operação da Polícia Civil. Desde então, as disputas se intensificaram, com execuções e extorsões. O promotor Adriano Saraiva, do Ministério Público cearense, relata que comerciantes têm sido obrigados a pagar “taxas” para operar e que barricadas já foram erguidas e removidas em bairros de Fortaleza e do interior.

Bahia e Acre: novos alvos do tráfico fluminense

Na Bahia, o TCP firmou aliança com o Bonde do Maluco (BDM) para frear o avanço do Comando Vermelho. A disputa elevou o número de homicídios de jovens no estado, segundo o Atlas da Violência 2024. Pichações com as siglas “BDM/TCP” estampam muros em Salvador e Camaçari, sinalizando o domínio dos grupos.

No Acre, a influência carioca ganhou força após a chegada ao Rio do traficante Jeremias Lima de Souza, um dos fundadores do Bonde dos 13, e de Laurisley “Arrascaeta” Mariano. A dupla foi acolhida por criminosos da Serrinha, Zona Norte do Rio, onde conheceu o líder Álvaro “Peixão” Santa Rosa, do Complexo de Israel — conhecido por seu discurso religioso fundamentalista.

De volta ao Acre, Jeremias e seus aliados começaram a aplicar as mesmas táticas fluminenses: cobrança de taxas a moradores, extorsões a comerciantes e controle de serviços essenciais, como internet. Jeremias foi assassinado em dezembro de 2024, e Arrascaeta, preso no Rio em julho de 2025.

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Segundo o coordenador da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Acre, Alcino Sousa Júnior, a atuação do TCP tem sido monitorada de perto:

“Essas facções vêm para cá e implementam o domínio territorial, bem mais lucrativo que o tráfico de drogas. Por isso, temos intensificado o monitoramento para impedir que o cenário do Sudeste se repita por aqui.”

O alerta nacional

A expansão das facções do Rio representa uma nova fase do crime organizado no Brasil, onde as fronteiras estaduais se tornaram irrelevantes. A violência que antes parecia restrita às favelas cariocas agora ecoa em todo o país — e o Acre, como outros estados, precisa se preparar para enfrentar essa nova realidade.

O que era “conexão” entre criminosos se transformou em franquia do terror, com redes que exportam armas, doutrinas e práticas de domínio. E como alerta o promotor mineiro Breno Araújo:

“Os grupos regionais que antes agiam de forma restrita estão se unindo ao CV e ao TCP para expandir a venda de drogas e aumentar o controle sobre territórios.”