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POLÍCIA

Delegado Alcino Júnior defende presença permanente do Estado para enfrentamento qualificado à tentativa de domínio de facções

Delegado Alcino Júnior defende presença permanente do Estado para enfrentamento qualificado à tentativa de domínio de facções

No episódio mais recente do podcast Conversa Franca, apresentado pelo jornalista Willamis França, o delegado Alcino Júnior, titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), trouxe um panorama contundente sobre o avanço das organizações criminosas no Acre e a urgência da retomada do poder público em áreas dominadas por facções. O foco da conversa recaiu sobre a situação alarmante da Cidade do Povo, bairro planejado de Rio Branco que, segundo o delegado, gradativamente, tornou-se símbolo da ausência do Estado.

Durante a entrevista, Willamis relembrou o histórico de enfrentamentos entre facções em bairros como Taquari e Recanto dos Buritis, mas destacou que, atualmente, os holofotes se voltam para a Cidade do Povo. “Lá existe uma audiência muito grande de casos, conflitos constantes, e é um local que chama a atenção não só da imprensa, mas da população”, pontuou o apresentador.

Alcino Júnior, com mais de uma década de atuação no combate às facções no estado, relatou ter participado da descoberta da célula do PCC no Acre em 2012, durante a investigação de um latrocínio em uma boate. Em fevereiro de 2013, deflagrou uma operação que resultou na prisão de 42 membros da facção. “De lá até hoje, são 13 anos acompanhando os ciclos do crime organizado no estado. Primeiro com a chegada das facções nacionais, depois com o surgimento de uma facção local que, inicialmente, resistiu, mas que acabou se alinhando a grupos maiores”, explicou o delegado.

Ao abordar a Cidade do Povo, Alcino destacou o paradoxo: um bairro planejado, com ruas largas, acessos definidos e estrutura urbana e locais definidos para órgãos da justiça, mas que, aos poucos, sucumbiu ao domínio do crime por falta de presença efetiva do Estado. “Não é um lugar de morros e vielas como no Rio de Janeiro. Tem acesso por três vias, estrutura física. Era para ter sede do Judiciário, Ministério Público, Defensoria, batalhão da PM… Mas com o tempo, o poder público foi se afastando”, lamentou.

A ausência do Estado, segundo Alcino, abriu espaço para o avanço das facções e até traços de milícia, com relatos de cobrança a moradores e comerciantes. “A população que mora ali é honesta, trabalhadora, mas está acuada. O Estado não pode aparecer só quando é para punir ou fiscalizar. Ele precisa estar presente com saúde, educação, assistência social”, afirmou.

Questionado por Willamis se o aumento de efetivo policial ou a instalação de uma delegacia mais estruturada seria suficiente para mudar o cenário, o delegado foi enfático: “Não basta ampliar a estrutura de segurança. É preciso um esforço intersetorial. Saúde, educação, assistência social, todos precisam estar dentro do bairro, de forma permanente. O poder público precisa ser visto também como presença amiga, não apenas como o braço repressivo”.

Acrescentou ainda que: “Quando o Estado falha nesses aspectos, ele perde legitimidade. O foco desse enfrentamento não é só por território, não é uma luta só pela quantidade drogas, armas e outros ilícitos apreendidos. Não é somente a busca por reduzir os índices criminais como homicídios, roubos etc...É uma luta muito mais ampla...trata-se de resgatar a legitimidade do Estado...é um enfretamento contra um ator armado não estatal que, cada vez mais, tem progredido no controle do território, de forma a oprimir a população no seu quotidiano, impondo regras e até sendo instado a solucionar, com o emprego da violência, as questões da comunidade”;  “...É uma perspectiva míope e com poucos resultados positivos, a médio e longo prazo, imaginar que direcionar apenas as forças de segurança do Estado será a solução para o resgate da legitimidade e confiança junto à população...”

O trabalho incansável das Polícias Civil e Militar, dentro das suas possibilidades, a parceria com o IAPEN tem sido fundamentais para que a situação não se agrave ainda mais...É logico que a velocidade do trabalho ostensivo não é a mesma do segmento investigativo...Alcino defendeu a implementação de policiamento comunitário, agentes de saúde atuando porta a porta, serviços públicos funcionando sem medo. “Não dá para esperar uma crise para encher o bairro de agentes por 30 ou 60 dias e não se ter um plano maior”. Não podemos banalizar e agir com naturalidade sabendo que há regiões em que, no dia a dia, estamos na iminência de perder o controle de parte do território. Precisamos de permanência para que o estado não perca sua legitimidade”, concluiu.