Na noite desta segunda-feira, 2 de junho, o Podcast Conversa Franca recebeu o advogado criminalista Wellington Frank, defensor do ex-policial militar Erisson de Melo Nery, conhecido nacionalmente após se envolver em um caso polêmico de homicídio em 2017, em Rio Branco, que vitimou o adolescente Fernando de Jesus, de 13 anos.
Durante a entrevista, Frank abordou detalhes do processo e contestou a narrativa amplamente divulgada pela imprensa à época, alegando que a versão que chegou à opinião pública omitiu elementos cruciais da defesa.
“As pessoas conhecem um rosto estampado numa matéria jornalística, mas não conhecem a história dentro do processo e das provas”, iniciou o advogado.
Segundo Frank, o ex-sargento Nery estava de serviço quando recebeu, por meio de vizinhos, a informação de que sua casa estaria sendo invadida por três indivíduos armados. Ele tentou contato com a família, sem sucesso, o que gerou grande desespero. Ao chegar à residência, viu dois suspeitos pulando o muro e um terceiro apontando uma arma em sua direção.
“Ele realizou disparos na região inferior do corpo para neutralizar a ameaça. Infelizmente, o adolescente acabou morrendo em decorrência dos tiros. Mas ele poderia ter dado 14 disparos e fez apenas quatro. Nenhum tiro foi à queima-roupa, nenhum mostrou característica de execução”, pontuou.
O advogado ainda destacou que a arma apontada contra o sargento falhou, e que só por isso Nery não foi alvejado.
“O próprio perito da Polícia Civil afirmou que o jovem tentou atirar, mas o projétil ficou atravessado no cano da arma por falha mecânica. Isso salvou a vida do meu cliente”, revelou.
Frank também criticou a forma como o caso foi inicialmente noticiado.
“A imprensa disse que o sargento estava em casa e que matou à queima-roupa. Não estou aqui para criticar colegas, mas em busca do furo jornalístico, muitas vezes se publica informações distorcidas. Isso causa danos irreparáveis.”
Nery foi denunciado por homicídio consumado e fraude processual, devido à existência de duas fotos: uma com a arma na mão do adolescente e outra com a arma a cerca de 15 centímetros de distância. Para o advogado, a conduta da guarnição, de afastar a arma por segurança, foi usada de forma distorcida para sustentar a tese de fraude.
“É prática comum da PM afastar o armamento da cena para proteger os próprios policiais e evitar que terceiros peguem a arma. Essa diferença entre as fotos é explicável operacionalmente”, explicou.
Por fim, Frank destacou o depoimento de um delegado de Polícia Civil, que estava próximo do local cumprindo mandado de prisão, ouviu os disparos, e foi até a cena do crime.
“Esse delegado foi testemunha ocular. Ele viu a arma com o adolescente e confirmou isso no processo. Essa foi uma peça-chave para esclarecer os fatos no processo penal”, concluiu.