Cerca de 3,7 milhões de mulheres brasileiras sofreram algum tipo de violência doméstica nos últimos 12 meses, segundo pesquisa nacional divulgada pelo Observatório da Mulher contra a Violência (OMV), em parceria com o Instituto Natura e a organização Gênero e Número.
O levantamento revela ainda que 71% dessas vítimas foram agredidas na presença de outras pessoas — e, em 70% desses casos, havia ao menos uma criança no local, o que corresponde a 1,94 milhão de agressões testemunhadas por menores.
O levantamento mostra também que, para 38% das entrevistadas, a violência já ocorre há mais de um ano, indicando a persistência do ciclo de agressões e a dificuldade de rompimento dos vínculos com o agressor. Em 40% das situações presenciadas por terceiros, as vítimas não receberam qualquer tipo de ajuda.
Os dados revelam que o primeiro acolhimento ainda ocorre principalmente na esfera privada. Após sofrer violência, 58% das mulheres recorreram à família, 53% buscaram apoio religioso e 52% procuraram amigos. Apesar disso, apenas 28% registraram ocorrência em Delegacias da Mulher e 11% acionaram o Ligue 180.
O recorte religioso mostra diferenças importantes: entre mulheres que declararam ter alguma fé, 70% das evangélicas procuraram apoio na igreja, enquanto 59% das católicas buscaram auxílio familiar.
A pesquisa também investigou o conhecimento das brasileiras sobre os mecanismos de proteção. Embora 67% afirmem conhecer a Lei Maria da Penha, 11% desconhecem totalmente seu conteúdo. O desconhecimento é maior entre mulheres com menor renda ou escolaridade: 30% das analfabetas e 20% das que têm apenas ensino fundamental incompleto não sabem do que trata a lei. Entre mulheres com ensino superior completo, esse índice cai para 3%.
A análise por faixa etária confirma o padrão: 18% das mulheres acima de 60 anos desconhecem a Lei Maria da Penha; entre as de 16 a 29 anos, o índice é de 6%. Mesmo assim, 75% das entrevistadas acreditam que a lei protege total ou parcialmente as mulheres; 23% consideram que ela não protege e 2% não souberam opinar.
A percepção de ineficácia é mais comum entre mulheres com menos escolaridade: 33% das não alfabetizadas e 30% das que não concluíram o ensino médio afirmam que a lei não garante proteção suficiente.
O estudo também mapeou o grau de conhecimento sobre instituições de atendimento. As Delegacias da Mulher são o equipamento mais reconhecido, citado por 93% das entrevistadas como espaço de proteção. Em seguida aparecem as Defensorias Públicas (87%), os CRAS e CREAS (81%), o serviço Ligue 180 (76%), as Casas Abrigo (56%) e a Casa da Mulher Brasileira (38%).
