Uma denúncia feita pelo infectologista Thor Dantas nas redes sociais reacendeu o debate sobre o tratamento da Covid-19 em unidades básicas de saúde do Acre. Segundo o médico, mesmo com a disponibilidade de antivirais modernos e eficazes, como o Paxlovid, profissionais da rede pública ainda prescrevem medicamentos sem comprovação científica contra o coronavírus.
No relato publicado no final do mês de setembro, Dantas compartilhou a experiência de sua empregada doméstica, que testou positivo para Covid-19 após apresentar sintomas intensos. Apesar de pertencer a grupo de risco, ela recebeu prescrição de ivermectina e Tamiflu (oseltamivir); este último indicado apenas para tratamento de gripe, em uma Unidade Básica de Saúde (UBS).
“É um absurdo. O antiviral específico contra a Covid-19, que é o Paxlovid, está disponível no SUS e está estragando nas prateleiras porque ninguém prescreve. Enquanto isso, pacientes continuam sendo tratados com medicamentos que não funcionam contra o vírus”, criticou o médico em vídeo.
Dantas também fez um apelo por capacitação urgente dos profissionais que atuam na linha de frente, especialmente em UBSs e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
“A gente lutou para conseguir esse medicamento, que reduz significativamente o risco de agravamento. Hoje ele está disponível. O problema é que os médicos não foram atualizados e continuam repetindo condutas que não fazem mais sentido em 2025”, afirmou.
Após a repercussão da denúncia, uma fonte ligada à Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre), que preferiu não se identificar, confirmou que o protocolo estadual foi atualizado para incluir o Paxlovid como opção terapêutica.
No entanto, a mesma fonte questionou a real disponibilidade do medicamento nas unidades de Saúde. “Essa senhora aí procurou em todos os postos e disseram que não tinha. E fora do SUS, o medicamento custa mais de seis mil reais. Que pobre tem acesso a isso?”, relatou.
A declaração levanta dúvidas sobre a efetividade da distribuição do antiviral e sobre a orientação dos profissionais para sua prescrição.
A reportagem procurou a Sesacre para esclarecer a situação quanto à distribuição do Paxlovid, a capacitação dos profissionais e a atualização dos protocolos. Até o fechamento desta matéria, não houve retorno.
O Paxlovid é indicado para pacientes com Covid-19 leve a moderada, desde que o tratamento seja iniciado nos primeiros cinco dias de sintomas. Sua eficácia na redução de hospitalizações e mortes é reconhecida por agências como a Anvisa e a FDA (EUA).