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“Me tiraram meus filhos por eu ser mãe de santo e lésbica”, denuncia assistente social no Acre

“Me tiraram meus filhos por eu ser mãe de santo e lésbica”, denuncia assistente social no Acre

O podcast Conversa Franca, transmitido pela TV Tribuna (canal 9.1) e pelas plataformas digitais do portal Notícias da Hora, recebeu nesta semana a assistente social Luciana Martins e seu advogado, Vladimir Rigon. A conversa revelou um relato impactante de intolerância religiosa, perseguição institucional e, sobretudo, uma suposta grave violação de direitos fundamentais.

Luciana, natural de Rio Branco e há 13 anos moradora de Acrelândia, é assistente social concursada e também dirigente espiritual de um templo de matriz africana, o Templo de Iansã. Ela vive com sua companheira e realizava trabalhos sociais com jovens em situação de vulnerabilidade, associando espiritualidade e acolhimento psicológico. Mas foi justamente sua atuação religiosa, somada à orientação sexual, que, segundo ela e seu advogado, se tornaram alvos de preconceito e perseguição.

“Hoje, meu templo está fechado por medo. A perseguição e o preconceito foram além do que eu poderia imaginar. Meus filhos foram retirados de mim sem qualquer aviso prévio, sem direito à defesa, sem uma única prova concreta”, relatou Luciana, visivelmente emocionada.

Segundo o advogado Vladimir Rigon, a decisão judicial que determinou a retirada das três crianças – uma delas autista – foi embasada em denúncias não comprovadas, registradas por meio de boletins de ocorrência que, até o momento, não geraram qualquer investigação formal. “A liminar foi inicialmente negada, mas posteriormente reconsiderada com base em alegações frágeis e sem perícia. Luciana só foi intimada meses depois da retirada das crianças. Isso é inadmissível”, declarou o advogado.

Luciana revelou que seus filhos foram levados pelo oficial de Justiça de forma abrupta. Um deles está com o pai biológico, com quem, segundo ela, já teve um histórico de violência doméstica. Os outros dois foram entregues aos pais adotivos dela, que, conforme afirmou, jamais aceitaram sua independência, sua fé e sua orientação sexual. “Nunca fui comunicada. Eles simplesmente apareceram em casa e levaram meus filhos. Minha filha ficou agarrada comigo, teve que ser arrancada à força”, contou.

O que mais choca no relato é o conteúdo das mensagens trocadas entre Luciana e os filhos, que hoje conseguem se comunicar apenas por jogos online e perfis de colegas nas redes sociais. “Minha filha de 11 anos me disse que tentou se matar três vezes. Que está sendo humilhada, impedida de comer, de sair. Que sofre por professar sua fé. É desesperador”, desabafou.

Entre as acusações que fundamentaram a decisão judicial estão supostos rituais com menores, porte ilegal de arma e fornecimento de substâncias ilícitas – todas negadas veementemente por Luciana. “Nunca tive uma arma, nunca forneci bebida ou droga. Meu trabalho sempre foi ajudar. Nunca houve uma investigação, uma busca na minha casa. Tudo que tive foi perseguição policial e preconceito.”

Ao final da entrevista, Luciana fez um apelo emocionante às autoridades e à sociedade: “Não olhem para mim como mãe de santo, como mulher lésbica, como assistente social crítica. Olhem para mim como mãe. Olhem para meus filhos como crianças que estão sofrendo. Eu só quero tê-los de volta. Quero exercer meu direito de amar, de crer e de viver com dignidade.”

O advogado finalizou ressaltando que o processo segue em andamento e que aguarda a designação de um técnico da comarca de Rio Branco para viabilizar as visitas assistidas, que hoje estão sob responsabilidade de familiares que integram a parte denunciante.

“Esperamos que a Justiça corrija essa falha grave. Luciana não foge da investigação. Ela pede que tudo seja apurado, com isenção. O que não se pode admitir é que crianças sejam vítimas de uma guerra motivada por intolerância religiosa e homofobia institucionalizada”, afirmou Vladimir Rigon.