Uma mãe procurou a Polícia Civil nesta semana para denunciar situações recorrentes de humilhação e possível abuso psicológico sofridos por seu filho, uma criança com transtorno do espectro autista, durante o convívio com familiares paternos. Segundo o relato, apesar de anos tentando manter o vínculo da criança com a família do pai, os episódios teriam se intensificado após a separação do casal, ocorrida há cerca de nove anos.
De acordo com a mãe, ela foi casada por dois anos com o pai do menino e, ainda durante o relacionamento, concordou que uma tia do então companheiro fosse madrinha da criança. Após a separação, o contato do filho com a família paterna ficou restrito à avó — já falecida — e à madrinha. O pai não mantém contato direto com a mãe, e qualquer necessidade relacionada à criança precisa ser intermediada pela madrinha, que decide se repassa ou não as demandas ao genitor.
A mulher afirma que a ajuda financeira e material sempre foi tratada de forma rígida e constrangedora. Presentes enviados ao menino, segundo ela, chegam com etiquetas de preço, e valores emprestados, mesmo pequenos, precisam ser devolvidos imediatamente quando a pensão é depositada. “Aqui eu me viro com tudo. Lá, compram coisas e ficam por lá”, relatou.
Entre as situações mais graves narradas estão episódios em que a criança teria sido obrigada a retirar roupas na frente da casa da mãe para devolvê-las à família paterna, inclusive diante de vizinhos e outras crianças. Em outras ocasiões, o menino teria retornado descalço após finais de semana fora, porque objetos comprados “lá” não poderiam ser trazidos de volta. A mãe afirma que já tentou dialogar, assim como sua própria mãe, mas sem sucesso.
Outro ponto que causou grande abalo emocional foi a revelação recente do próprio menino. Segundo a mãe, a criança contou que, quando está na casa da madrinha, é obrigada a dormir no colchão no chão, sob a justificativa de que sua respiração incomoda durante o sono. “Ele é extremamente carinhoso, precisa de afeto, de contato, e ouvir isso dói profundamente”, desabafou.
A situação teria se agravado em um episódio ocorrido após um aniversário infantil. Ao devolver a criança, a madrinha teria exigido que o menino retirasse a roupa ainda do lado de fora da casa, permanecendo apenas de cueca. Com vergonha, ele pediu para entrar, o que gerou uma discussão intensa no portão da residência, presenciada por vizinhos. A mãe relata que, em outras ocasiões, a madrinha chegou a buscar a criança na escola sem autorização, alegando falsamente que havia obtido consentimento.
Cansada da situação, a mãe decidiu procurar ajuda formal. Faltou ao trabalho e foi inicialmente ao 6º Distrito Policial, sendo encaminhada à Delegacia Especializada da Criança. Lá, após relatar todo o histórico de humilhações, manipulação psicológica e retirada da criança sem autorização, recebeu a informação de que não haveria crime suficiente para o registro de um boletim de ocorrência, já que não havia sinais de agressão física.
Segundo a mãe, a orientação recebida foi de que apenas marcas visíveis de violência justificariam uma ocorrência formal. “O abuso psicológico, muitas vezes, é pior do que o físico, e foi isso que meu filho sofreu”, afirmou. Ela relata ainda que solicitou o registro da ocorrência, conversa com um delegado e uma medida protetiva para manter os familiares afastados, mas se sentiu completamente desamparada.
“Procurei ajuda, procurei os meios legais, e não consegui. Se tivesse havido agressão física na discussão, talvez fosse diferente. Mas como busquei a lei de forma calma, não tive apoio”, concluiu.
Tentamos contato com a madrinha do menor por WhatsApp através do contato 68 99205-XX - XX a qual a mãe denúncia na matéria mas não obtivemos resposta até o fechamento da mesma. O espaço segue aberto caso queiram se manifestar.
