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Extrativistas do Juruá se preparam para a segunda safra de cacau selvagem

O primeiro bimestre de 2019 consolidará o trabalho desenvolvido pela SOS Amazônia, por meio do projeto Valores da Amazônia, de profissionalizar de forma sustentável a exploração de cacau silvestre pelas famílias extrativistas que moram às margens do rio Juruá.

A partir de fevereiro, os ribeirinhos voltam a adentrar nas áreas de floresta onde se concentram a maior quantidade de cacaueiros nativos para a colheita da segunda safra. O Vale do Juruá, tanto na sua porção do Acre quanto do Amazonas, é dono de uma das maiores áreas em que o fruto é encontrado em abundância.

Por meio do Valores da Amazônia, os extrativistas passaram a ter no cacau mais uma oportunidade de geração de renda a partir das riquezas naturais da floresta, sem a necessidade da adoção de práticas predatórias.

Financiado com recursos do Fundo Amazônia/BNDES, o projeto visa fortalecer nove cooperativas e seus cooperados para aperfeiçoarem e padronizarem a exploração de produtos florestais não-madeireiros de regiões da Amazônia.

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O projeto permitiu que as comunidades localizadas no Alto e Baixo Juruá tivessem acesso a assistência técnica com oficinas de capacitação para as práticas de manejo sustentável do cacau silvestre. Por meio de estudos foi feita a identificação do potencial da presença dos cacaueiros na floresta, com uma espécie de inventário.

Houve investimentos na infraestrutura necessária para a exploração da nova atividade. Foram construídos locais para o beneficiamento e armazenamento adequados dos frutos.

Outra ação foi fortalecer a organização social destas famílias por meio de cooperativas. Antes de incluir o cacau na cesta de produtos não-madeireiros explorados por essas comunidades, elas estavam elas estavam mais dedicadas à extração do coco do murmuru.

Em fevereiro de 2018, a SOS Amazônia levou o pesquisador americano Daniel O’Doherty, uma das principais referências mundiais no trato do cacau silvestre, até a comunidade Novo Horizonte, no município de Guajará (AM), para apresentar técnicas de manejo do fruto, passando pela coleta, a quebra e a secagem.

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Outra iniciativa foi a troca de experiência entre as comunidades do Juruá com os seus colegas da Cooperativa Agroextrativista do Mapiá e do Médio Purus (Cooperar), de Boca do Acre (AM), que também faz parte do Valores da Amazônia. A Cooperar já tem experiência mais avançada na exploração do cacau silvestre, também conhecido como cacau selvagem.

Parte das famílias do Vale do Juruá que hoje encontra no cacau uma complementação para suas rendas, faz parte da Cooperativa dos Produtores de Agricultura Familiar e Economia Solidária de Nova Cintra (Coopcintra), de Rodrigues Alves (AC),

“Elas agora têm mais clareza do tempo para fazer esse processo, do deslocamento, da forma de quebrar o cacau. Elas estão com mais expertise para a coisa, estão mais motivadas”, diz Miguel Scarcello, secretário-geral da SOS Amazônia.

Desde a colheita da primeira safra - no começo de 2018 - os extrativistas recebem assistência contínua por parte da SOS Amazônia. Um dos objetivos dessa qualificação foi para que elas recebessem a certificação orgânica internacional, garantindo que a produção seguiu critérios de sustentabilidade ambiental, social e econômica.

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Parte desta segunda safra já estará certificada para ser vendida aos mercados da Europa e Estados Unidos. Para essa nova colheita o principal comprador tende a ser a Luisa Abram Chocolates, que tem uma produção exclusiva, cujos únicos ingredientes são açúcar orgânico e cacau silvestre retirado da Floresta Amazônica. Em 2018, ela adquiriu todo os frutos da Coopercintra.

“Do ponto de vista da sustentabilidade, a exploração do cacau evita o desmatamento porque é uma atividade extrativista, possibilita a geração de renda para as famílias, com maiores benefícios sociais”, afirma Scarcello.

“No primeiro ano de experiência já conseguimos produzir uma tonelada de amêndoa seca, onde ficou na nossa região uma quantia de aproximadamente 12 mil reais que foram pagos a estas famílias, envolvidas no processo de coleta dos frutos e beneficiamento das amêndoas. Outro ponto positivo é que tudo isso está sendo realizado sem agredir a natureza, mas sim preservando”, diz Aires Andriola, morador da comunidade Novo Horizonte.

“Foi, sem dúvida, um dos projetos mais eficazes aqui para nossa região do Juruá, tendo em vista que somos muito ausentes dos recursos públicos. E quando surge uma organização como a SOS Amazônia, proporcionando o projeto Valores da Amazônia, que mostra os caminhos de como tirar uma renda da floresta com ela em pé, eu defendo com a convicção que dá certo, ou melhor, já deu certo”, completa Osmir Andriola, também da Novo Horizonte.

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