O médico biologista molecular Andreas Stocker, gerente técnico responsável por diagnósticos do Centro de Infectologia Charles Mérieux, disse que a realidade do Acre e do Brasil com relação a muitos países da Europa, China e Nova Zelândia é completamente diferente com relação a possível chegada da variante Delta. Em muitos desses países, medidas mais duras já estão sendo aplicadas novamente para conter uma possível onda. Ele acredita que a variante, considerada mais transmissível e agressiva, já esteja em circulação no estado.
“Eu li que em Nova Zelândia, está há seis meses livre de covid. Um ou dois dias atrás, eles acharam uma pessoa positiva. Hoje eles acharam a 7ª e tiveram lockdown de novo em todo o País. Mas, eles têm uma quantidade das análises muita alta. Nós não temos isso. Nós nunca chegamos perto da Europa e dos países... A China está fechando uma cidade com 5 milhões de habitantes. Em duas semanas, cada pessoa, duas vezes. Imagino. Nós temos um estado de 900 mil habitantes e foram fechados até hoje menos que 130 [mil]. Então, nós estamos completamente diferentes e quando Delta entra, primeiro nós não vamos mudar. Quem vai se infectar facilmente são crianças, jovens, adolescentes. Até notarmos que os primeiros casos é covid, já vai ter espalhado”, pontua o médico.
Andreas Stocker explicou em países da Europa, nos Estados Unidos, Nova Zelândia e até mesmo na China, há a possiblidade de uma nova onda da doença. Neste sentido, ele acredita que o Brasil e o Acre não estão imunes à chegada da variante. Ele afirmou que é temerário o desmonte dos hospitais de campanha e a desmobilização de equipes.
“Eu acho que sim. Tudo que nós podemos ver, nos outros países, os hospitais ficam novamente cheios. A vacina não resolve o problema. Infelizmente na variante Delta, não vamos ter nenhuma forma de imunidade de rebanho, impossível. A única chance que nós temos é vacinar todo mundo. Vacinar com 3ª dose as pessoas mais vulneráveis. No ano que vem, com certeza, vai ter vacina modificada. Já temos os primeiros testes que tem especialmente a Delta e vai ficar assim. Eu espero que nos próximos dois anos a população mundial vai ser vacinada com três doses e depois essa virose vai ficar conosco”, como uma doença comum entre as viroses.
E deixa um alerta. Para ele, daqui a dois anos é impossível deixar o uso da máscara. “Por enquanto, sem chances de deixar a máscara e as medidas”.
Ao falar sobre as vacinas, o médico biologista disse que não há uma cobertura de 100%. Andreas também alerta que é preciso a aplicação de uma 3ª dose nos trabalhadores da Saúde, que na maioria tomou a vacina CoronaVac.
“A proteção de uma vacina de uma infecção, infelizmente, não é 100%. A maioria das pessoas, trabalhadores do SUS, tomaram a vacina do Butantan. Dessa vacina já tem publicado que 100% das pessoas vacinadas vão se infectar com a Delta. Não tem proteção da infecção. Isso seria necessário [nova vacinação], mas o problema é que todas as vacinas não tem uma proteção 100%. Você tem 30% a 40% das pessoas que não vão se infectar e o resto vai se infectar. E vai ser uma carga viral na garganta, tão alta quanto de pessoas não vacinadas. A suspeita atual é que a carga viral caia mais rápida, não fica 10 dias tão infeccioso. As pessoas vacinas têm uma boa proteção de ficar doente ou ficar seriamente doente. Normalmente não acontece. Isso é a boa notícia”, salientou.
Por fim, Andreas Stocker espera um aumento considerável dos casos a partir do início de setembro. “Espero um aumento dos casos e o começo da 3ª onda ainda em setembro. Ainda estamos antes da onda. Sempre demora algumas semanas até nós notarmos”.