Em meio às atividades pedagógicas desenvolvidas diariamente, a APAE Rio Branco realiza uma ação de grande impacto social: a inserção de seus alunos no mercado de trabalho. Atualmente, 13 pessoas com deficiência (PCDs) atendidas pela instituição exercem alguma função profissional em empresas da Capital acreana, rompendo ‘barreiras’ e mostrando que dignidade, respeito e inclusão são direitos que devem ser garantidos na prática.
A iniciativa, coordenada pela assistente social Fabíola Freitas, vai muito além de apenas um encaminhamento. Trata-se de um processo de formação e acompanhamento cuidadoso, que prepara os alunos para assumirem responsabilidades, desenvolverem autonomia e se sentirem parte ativa da sociedade. “Hoje temos 13 PCDs encaminhados ao mercado de trabalho, com deficiências intelectuais, auditivas parciais e alguns casos de síndrome de Down. Eles atuam principalmente no comércio, como supermercados, e temos também um aluno trabalhando na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac)”, destacou Fabíola.
Da sala de aula ao ambiente profissional
A preparação dos alunos começa dentro da própria APAE, nas salas de Educação Profissional. Nesse ambiente, os estudantes são acompanhados por professores especializados, além de psicóloga e assistente social. “O projeto tem um tempo de formação que varia de seis a doze meses. Nesse período, observamos aspectos como convivência, comportamento, respeito, compromisso, assiduidade e autonomia na vida diária. Só após esse processo é que iniciamos o contato com a família e com a empresa”, explica a profissional.
A parceria entre aluno, família, APAE e empresa é essencial para que a inclusão funcione de fato. “Após a contratação, o acompanhamento continua. Fazemos visitas às empresas, mantemos os atendimentos na APAE e incentivamos a frequência nas salas de Educação Profissional. Isso serve também de estímulo para os outros alunos que ainda estão em fase de preparação”, pontua a assistente social.
Desafios persistem: do preconceito à resistência empresarial
Apesar dos avanços, os desafios enfrentados pelos alunos não são poucos. O principal deles ainda é o preconceito. “Infelizmente, dentro das empresas, há quem resista à contratação de pessoas com deficiência. Algumas dizem que contratam apenas para cumprir a lei e evitar multas. Falta empatia e preparo para lidar com esses profissionais”, lamenta Fabíola.
Ela também chama atenção para a importância do papel da família nesse processo. “Sem o apoio do responsável, é muito difícil garantir a contratação e, principalmente, a permanência no trabalho. As famílias cuidam da documentação, da organização pessoal dos alunos e do suporte diário necessário. Elas são fundamentais.”
Dignidade e independência
Mais do que um simples emprego, o trabalho representa para esses jovens uma oportunidade de crescer, ser reconhecido e contribuir para o sustento da própria casa. É uma porta para a cidadania. “Essa é a essência do nosso trabalho: garantir que os alunos tenham não apenas inclusão escolar, mas inclusão social de verdade. E o trabalho é uma das formas mais poderosas de transformação”, conclui Fabíola.
Enquanto ainda há muito o que avançar, a experiência da APAE Rio Branco mostra que a inclusão é possível quando há preparo, sensibilidade e, principalmente, vontade de fazer diferente. Os 13 alunos que hoje têm um ofício são a prova viva de que o trabalho dignifica e transforma — não apenas a vida de quem é incluído, mas de toda uma sociedade.