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Situações Crônicas - Por Daniel Zen

Um  mau presidente, um presidente do mal

Um mau presidente, um presidente do mal

Bolsonaro perdeu as eleições porque foi um mau presidente: inepto para o munus público e incompetente no exercício do cargo, ele deixa, como legado, um conjunto de indicadores socio-econômicos (inflação, desemprego, taxas de câmbio e de juros, preço de combustíveis e dos produtos da cesta básica…) em posição muito pior do que deixaram todos os seus antecessores.

Além disso, Bolsonaro também se mostrou incompetente para a batalha eleitoral. Perdeu, mesmo tendo se apresentado à disputa municiado de um conjunto de artifícios e artimanhas, trapaças e trambiques.

Perdeu, mesmo aprovando a "PEC da Compra de Votos", que criou novos benefícios sociais temporários, em ano de Eleição - o que é proibido pela Constituição Federal e pela legislação eleitoral, além de ter segurado na marra o preço dos combustíveis e elevado, temporariamente, o valor do Auxílio Brasil, tudo para tentar agradar o eleitorado mais pobre.
Perdeu, mesmo aboletado na estrutura da máquina administrativa; distribuindo cargos no governo e recursos do orçamento secreto a rodo para comprar apoio no Congresso Nacional; sentado em uma montanha de dinheiro do Fundo Eleitoral; recebendo milhões em doações de campanha dos "Véi da Havan" da vida; e pilotando uma poderosa indústria de fake news chamada Gabinete do Ódio.

Perdeu, mesmo com dezenas de veículos de imprensa e uma emissora de televisão inteira (Jovem Pan), com toda a sua plêiade de pseudo-jornalistas propagando fake news, diariamente, a seu favor; com os vídeos catastróficos de seus digitais influencers, tais como os do mercador da fé, André Valadão, disparados nas redes sociais na tentativa de ludibriar seus seguidores; com seu apoiador Roberto Jefferson atirando e resistindo a uma ordem de prisão, na tentativa de se fazer um mártir político; com seu ministro Fábio Faria e a farsa das inserções nas rádios, na tentativa de alegar uma fraude eleitoral que nunca existiu; com sua apoiadora Carla Zambelli em busca de um cadáver para chamar de seu na véspera da votação; e com a PRF, sob seu comando, praticando abuso de autoridade em todo o país, obstruindo e dificultando a participação de eleitores no pleito…
Durante os quatro anos de governo, ele sempre se preocupou mais em dar sequência às suas estratégias diversionistas do que propriamente em executar um plano de governo qualquer que, aliás, nunca existiu. Ele, sua família, seus asseclas e apoiadores mais fanáticos sempre fizeram de tudo para 1) defenestrar ou intimidar adversários; 2) tentar gerar comoção pública em seu favor; 3) produzir cortina de fumaça sobre os seus malfeitos e pacotes de maldades; 4) desacreditar as instituições; 5) arranjar pretexto para a não aceitação do resultado eleitoral.

Como mau militar que sempre foi, tentou governar a partir de uma velha estratégia, adaptada da matemática logarítmica, conhecida como "Aproximações Sucessivas", com avanços, inércias e recuos alternados. Ela serve para medir o termômetro da sociedade antes da tomada de alguma medida que se quer tomar, mas, sobre cuja adesão ou aceitação popular se tem dúvidas. Essa estratégia sempre veio acompanhada de uma outra: trata-se das denominadas Operações Psicológicas (do inglês Psychological Operations - PSYOP), parte integrante da chamada Guerra Cognitiva (do inglês Cognitive Warfare - CW), em que se procede com a desestabilização do adversário (ou a descredibilização de uma instituição) através da disseminação de mentiras que geram dúvidas, insegurança, medo e rejeição na população para com algo ou alguém. Os fatos que circundam o 7 de setembro de 2021 e os constantes questionamentos sobre a idoneidade das urnas eletrônicas e do processo eleitoral são exemplos do que acabei de descrever.
Além de um mau presidente, Bolsonaro perdeu as eleições porque também foi um presidente do mal. Enquanto esteve mais preocupado em promover a execração pública e o linchamento moral de seus adversários, produzir e difundir mentiras e teorias da conspiração, propagar o ódio, disseminar a contenda, a cizânia e o dissenso e encenar estratégias militares como se em guerra estivesse, se esqueceu de governar. E assim, Lula venceu.

*Daniel Zen é doutorando em Direito pela UnB e Mestre em Direito, com concentração na área de Relações Internacionais, pela UFSC. Professor do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais Aplicadas (CCJSA) da Universidade Federal do Acre (UFAC). Contrabaixista da banda de rock Filomedusa. Colunista do portal de jornalismo colaborativo Mídia Ninja e do site Notícias da Hora. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..