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Perspectiva | Com Raphael Bastos Jr.

As marcas de uma guerra

As marcas de uma guerra

A humanidade contempla uma verdadeira guerra mundial. Não com tanques e aviões, com bombas ou fuzis, onde os inimigos possuem exércitos e estratégias para tentar vencer. A verdadeira guerra que vivenciamos hoje é interna, onde cada país luta contra seus erros e acertos ao longo dos anos nas principais políticas públicas e na condução de suas economias.

Os Governantes lutam contra a difícil decisão de priorizar vidas e as pressões de salvar a economia. De outro lado, a sociedade vive seu maior desafio evolutivo. Porém meu caro leitor, quero mais uma vez convidar você ao nosso exercício semanal de esvaziar nossas xícaras de conhecimentos e pré-conceitos, e olharmos para os fatos de outra PERSPECTIVA!

Nossa geração está vivenciando um marco histórico. Como falei na semana passada, teremos naturalmente o mundo A.C. – antes do coronavírus – e D.C. – depois do coronavírus – e as marcas desse evento estão sendo profundas, na economia mundial, nos sistemas de saúde de todos os países, nas famílias que choram suas perdas e, sem dúvida, no convívio social, que nunca mais será o mesmo.

Os seres humanos de modo geral, que vivenciam esse período também estão sofrendo mutações. Algo vem mudando na cabeça das pessoas, que até bem poucos dias atrás não se sensibilizavam tanto com a fome, com o frio, com o desemprego e tantas outras mazelas sociais que estão presentes desde os primórdios da vida em sociedade.

Contudo, o isolamento, juntamente com o distanciamento social, não foi somente uma ação para inibir a rápida propagação do vírus, serviu também para nos levar a uma autorreflexão profunda de nossos papéis na sociedade, nosso papel como pais, como filhos, como maridos e esposas, que tomados pelos seus hábitos e rotinas, em buscas de alcançar seus sonhos e conquistas financeiras, deixaram de lados momentos que hoje enxergamos como essenciais para a plena felicidade.

Nesses novos tempos onde o uso das máscaras se faz obrigatório a todos, também se tem aprendido a dar o real valor ao sorriso simples e verdadeiro, onde um aperto de mão e um abraço – até então comum – se tornam sinônimos de confiança e segurança. Tempos em que compartilhar da presença diária das pessoas que amamos tem tido cada vez maior valor, já que os que tem tido a dor da perda de um ente querido para essa doença tão cruel, não podem sequer se despedir e prestar a devida última homenagem. Tempos em que dizer constantemente “eu te amo” virou quase regra, por medo de não ter uma segunda chance de expressar tal amor.

De forma direta a pandemia vem deixando ensinamentos nas pessoas, que não podem ser ignorados. Ela despiu sem nenhum pudor e expôs nossa vulnerabilidade emocional, aflorou nossos medos mais profundos e nossa necessidade de sermos pessoas mais empáticas e finalmente aptas a praticar um simples mandamento bíblico: amar ao próximo como a si mesmo!

Estamos aprendendo rapidamente a diferença entre o que tem valor e o que tem preço. De maneira prática, estamos vendo que muitos carros luxuosos não estão podendo sair das garagens, que não tem sido possível desfrutar de todo conforto das mansões, que não se faz mais tanto uso das joias e roupas caras, pois não tem quem as apreciem, todas essas coisas que até tão pouco tempo eram objetos de desejos de uma grande parcela da sociedade, outros até não buscavam tanta riqueza, mas os sonhos de casa e carro próprio eram o que os moviam, associando o sentimento de felicidade somente quando se conquistava alguns de seus objetivos.

Porém, foi preciso levarmos um choque de realidade. Então surgiu esse vírus que rapidamente nos ensinou que existe felicidade no caminho a ser trilhado para alcançar tais feitos, pois essa felicidade está nos momentos vivenciados com as pessoas com quem estamos compartilhando nossos dias, nossas angústias e nossas alegrias. Aprendemos que um sorriso, um abraço e uma frase tem valor inestimável e que precisamos de tão pouco para nos sentirmos verdadeiramente felizes.
Que essa evolução seja permanente, que não mais sejamos imediatistas, que não sejamos egoístas ao ponto de tomamos decisões analisando somente o que ela pode me trazer de benefício, mas analisando também se não trará reflexos negativos ao próximo, e, principalmente, que essa onde de amor e solidariedade que esse momento trouxe se perpetue nessa geração.

Somente assim saberemos que estamos honrando e respeitando nossas cicatrizes, as marcas de uma guerra que jamais poderá ser esquecida pela humanidade!