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Papo de Cafezinho - Por Jairo Carioca

A escola exclui e o crime acolhe

A escola exclui e o crime acolhe

É a conclusão de um estudo sobre a etiologia da violência extrema feito pelo sociólogo Marcos Rolim, uma das referências para o debate sobre violência nas escolas brasileiras, tema que pautou a imprensa mundial, principalmente após o ataque a creche infantil em Blumenau (SC).

O pesquisador chama atenção para o que classifica como “dinâmica perversa em curso nas cidades brasileiras, que envolve evasão escolar muito precoce”. Adolescentes que fracassam na escola e são acolhidos pelo crime organizado, socializados nos valores da violência.

O estudo chama a atenção para o treinamento violento que o adolescente ou jovem fora da escola é submetido a partir do momento em que ganha uma arma, a pesquisa de Rolim aponta essa disposição violenta para mais de 54% dos casos de violência extrema.

Esse perfil de adolescente ou jovem foi encontrado na chamada True Crime Community, que em português significa: Comunidade de Crimes Reais, grupo que faz parte do que é conhecido como subcultura online – oposto a cultura dominante – fascinado pelo assassinato ou terrorismo e que atuam sob o “efeito contágio”, tema do artigo da semana passada.

O clamor popular após o crime na creche de Blumenau parece ter influenciado os parlamentos brasileiros que legislaram a toque de caixa uma série de ações para tentar prevenir e coibir a violência no ambiente escolar. Se adotadas, essas estratégias podem transformar a escola em um presídio. O alerta foi feito pelo presidente Lula em reunião sobre o tema com ministros e governadores.

“Se tentarmos fazer isso estamos dando a demonstração que não servimos pra muita coisa, porque não sabemos resolver o problema real" disse o presidente.

No Acre não foi diferente, a Assembleia Legislativa aprovou na ordem do dia, projeto de autoria do deputado Chigo Viga (PDT) que exige a instalação de detector de metal nas portas das escolas públicas e privadas. Se sancionado pelo governador Gladson Cameli, isso vai representar um investimento milionário que, segundo especialistas, não resolve a crise de segurança pública, pode agravar ainda mais a situação.

Pelo que demonstra Rolim, o problema está fora da escola. A conclusão prática, segundo o sociólogo, é que a prevenção da criminalidade deve levar em conta a redução da evasão escolar, aspecto negligenciado nas aprovações de medidas pelos deputados que, sequer ouviram a comunidade escolar.

Um a cada quatro aluno que inicia o ensino fundamental abandona a sala de aula antes de completar a última série. A pesquisa é do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

Indico ao deputado Chico Viga a leitura do livro A formação de jovens violentos – Estudo sobre a etiologia da violência extrema (Appris Editora).

Jairo Carioca é jornalista, assessor de imprensa, escreve para o NH semanalmente.