A Amazônia entra na próxima década diante de uma chance histórica — e, na minha opinião, o Brasil já está atrasado. Enquanto a Guiana transformou seu litoral no maior motor de crescimento das Américas, seguimos hesitando diante de uma decisão simples. A boa notícia é que o IBAMA finalmente concedeu a primeira licença para a Petrobras perfurar o primeiro poço exploratório na Margem Equatorial, em águas profundas do Amapá, a cerca de 500 km da foz do Amazonas (é isso mesmo que você leu: são 500 km depois da foz do Amazonas). É um passo importante, mas a autorização cobre apenas a fase exploratória, e o Brasil precisará de nova licença para a produção comercial.
Tecnicamente, não nos falta capacidade. A Petrobras domina a exploração em águas profundas desde o pré-sal e provou que pode operar com responsabilidade ambiental. O debate sobre riscos é legítimo, mas não pode ser usado como desculpa para a inércia. O potencial é grande: estimativas oficiais apontam que a Bacia da Foz do Amazonas pode conter entre 5,6 e 6,2 bilhões de barris de petróleo. É riqueza suficiente para colocar a Amazônia no centro do debate econômico do país e financiar uma política regional robusta de desenvolvimento e transição energética.
Para entender o tamanho da oportunidade, pedi para a IA fazer um cálculo: com uma produção de 400 mil barris por dia, com o barril a 60 dólares — um valor abaixo do preço de mercado atual — isso geraria uma receita bruta de cerca de 8,7 bilhões de dólares por ano. Só em royalties, o Brasil arrecadaria algo em torno de 870 milhões de dólares anuais, mais de 4 bilhões de reais. A Guiana é prova viva de como essa riqueza pode transformar um país. Desde que iniciou sua produção em 2019, a economia local disparou. Em 2024, o PIB cresceu mais de 40%, impulsionado por uma produção que já supera 600 mil barris por dia. O fundo soberano guianense acumula bilhões de dólares e financia obras e políticas sociais. Ou seja: quem decide primeiro, colhe primeiro.
Mas o mais importante é o “para quê”. Defendo que a maior parte dos royalties federais da Foz do Amazonas seja direcionada para o desenvolvimento regional da Amazônia, de forma prática, bem diferente do Fundo Amazônia. É dinheiro para financiar políticas de valorização da produção extrativista e da agricultura familiar. Investimentos em políticas como a PGPM-Bio — a política de preços mínimos para produtos da sociobiodiversidade — que deixaria de pagar um preço mínimo para bonificar os extrativistas em até cinco vezes mais do que o valor atual, além de incluir mais produtos. Financiamento para assistência técnica e agroindustrialização. É a agricultura familiar que sustenta a economia real da região.
A realização da COP 30 em Belém coloca o Brasil e a Amazônia no centro das decisões sobre o futuro climático do planeta. Mas é preciso cuidado com o discurso fácil da “preservação”. Os países ricos, que consomem 80% do petróleo produzido globalmente, tentam impor ao Brasil o papel de guardião ambiental sem contrapartida econômica. O Brasil pode e deve liderar a transição energética, mas ela precisa começar com soberania e inclusão.
A exploração responsável do petróleo na Margem Equatorial não nega a agenda ambiental — ela pode financiá-la. Por tudo isso, repito: postergar é perder. A exploração de petróleo na Amazônia pode ser o motor de um novo ciclo de desenvolvimento no Norte, mas só se começar com clareza, responsabilidade e uma política de destinação de recursos que tenha a cara da Amazônia — debatida com quem mora de verdade na Amazônia, e não com quem vem aqui só passear e tirar foto. Não podemos perder a oportunidade de sermos indutores do nosso desenvolvimento, em vez de meros espectadores de um processo que, mais dia, menos dia, vai acontecer.
Nos próximos artigos, vou detalhar o potencial das terras raras e o impacto da ferrovia ao Pacífico para a agricultura familiar.