No futebol acreano, a lógica parece ter se invertido: quem investe é atacado, quem abandona é blindado. Em uma manobra que cheira a desespero e conveniência política, os presidentes do Rio Branco, Valdemar Neto, e do Independência, José Eugênio de Leão Braga — o eterno Macapá —, protocolaram um pedido na Federação de Futebol do Estado do Acre (FFAC) exigindo a renúncia do atual presidente da entidade, Adem Araújo.
O motivo? Suposta ligação de Adem com o Santa Cruz-AC, clube que ajudou a fundar e que hoje é, ironicamente, um dos poucos que ainda consegue se manter competitivo. A acusação soa frágil quando se observa que Adem deixou oficialmente o comando do Santa Cruz antes de assumir a presidência da FFAC — cargo ao qual chegou de forma legítima após a morte de Antônio Aquino Lopes, que esteve à frente da federação por mais de 40 anos.
A pergunta que não quer calar é: quem são Valdemar Neto e Macapá para falar de moral no futebol acreano?
Macapá é o mesmo que, há 37 anos, comanda o Independência Futebol Clube e o deixou definhar. Basta visitar a sede do clube, no bairro do Aviário, para entender o tamanho do descaso: um espaço histórico, praticamente tomado pelo mato e pelo abandono. Não é exagero dizer que o campo virou uma metáfora perfeita do estado em que o dirigente deixou o futebol que um dia ajudou a construir. E ele ainda tem a audácia de se colocar como fiscal da moralidade esportiva?
Já Valdemar Neto, presidente do Rio Branco, parece mais interessado em disputas de bastidor do que em reconstruir a dignidade do clube que representa. Sob sua gestão, o Estrelão coleciona dívidas, eliminações precoces e uma desconexão cada vez maior com sua torcida.
Adem Araújo, por outro lado, é um empresário conhecido por colocar dinheiro próprio no futebol. Foi ele quem tirou o Santa Cruz do papel. Foi ele quem, com a morte de Aquino, assumiu a missão de modernizar a FFAC. E o que recebe em troca? Uma tentativa rasteira de golpe institucional promovido por quem teve tempo demais para fazer e nada fez.
É preciso parar de proteger dinossauros que vivem pendurados em cargos, sabotando qualquer tentativa de renovação. A Federação de Futebol precisa de transparência, de sangue novo e de coragem para romper com práticas arcaicas que há anos asfixiam o futebol acreano. O que os dirigentes do Rio Branco e do Independência deveriam estar fazendo é prestando contas à sociedade. Por que não abrimos a caixa-preta desses clubes? Onde estão os investimentos? Onde estão os projetos sociais? Onde estão os resultados?
O futebol do Acre pede socorro. E nesse cenário, o ataque a Adem Araújo não é apenas injusto — é sintomático. É o velho sistema tentando impedir qualquer um que ameace sacudir suas estruturas apodrecidas.
A sociedade esportiva e os clubes que realmente querem mudança precisam ficar atentos: não se pode permitir que vaidades pessoais e interesses obscuros prevaleçam sobre o que o futebol acreano mais precisa — compromisso, trabalho sério e renovação.
Willamis França jornalista do Portal Notícias da Hora