..::data e hora::.. 00:00:00
gif banner de site 2565x200px

ARTIGOS

Quem são os indesejáveis?

Quem são os indesejáveis?

No coração de Rio Branco, o que vemos atualmente não é apenas uma cidade em crise, mas uma sociedade que perdeu a capacidade de olhar para o outro com empatia. A discussão em torno da transferência do Centro Pop expõe mais do que um problema de localização: revela o esvaziamento da nossa política de assistência e a urgência de um debate sério sobre o que realmente nos afasta como comunidade.

As pessoas em situação de rua são, muitas vezes, tratadas como se fossem elas o problema — mas não são. Elas são o resultado de problemas muito maiores: desigualdade, desemprego, falta de moradia, de saúde mental e de rede de apoio. A dura verdade é que vivemos em uma sociedade que transforma seres humanos em “resíduos sociais”, descartando-os como se fossem coisas.

Enquanto isso, comerciantes lutam para sobreviver, vendo seus negócios ruírem num centro urbano abandonado por uma gestão inoperante, que insiste em resolver questões estruturais com deslocamentos superficiais. É fundamental que tenhamos a compreensão de que quando a política abandona a ação e se prende à aparência, ela se distancia da verdade e, com ela, do povo.

Não se trata de escolher entre o morador de rua ou o dono do comércio. A escolha real é entre continuar mascarando os sintomas ou enfrentar com coragem e humanidade as causas profundas da crise. Quando a prefeitura tenta resolver esse cenário apenas mudando o Centro Pop de lugar, ela não está solucionando nada — está apenas transferindo o desconforto, o problema e a responsabilidade.

Há que se reconhecer que a vida só é plenamente vivida quando é reconhecida como digna. E dignidade, nesse contexto, é ter onde morar, ter acesso à alimentação, cuidados e políticas públicas eficazes. É ser visto como sujeito de direitos, e não como um erro a ser escondido nos cantos da cidade.

É preciso parar de enxergar as pessoas em situação de rua como uma ameaça e começar a vê-las como parte da cidade, da sociedade, da gente. O que está em jogo é a forma como escolhemos conviver: com indiferença ou com solidariedade.

Não há política pública eficaz sem humanidade. E não há humanidade sem a coragem de olhar para a dor do outro e chamá-la de nossa também.

 

*Tácio Júnior é jornalista, pela Universidade Federal do Acre, acadêmico de sistemas para internet, pelo Instituto Federal do Acre, e assessor do vereador André Kamai.