Nos casamentos, o padre ainda repete a velha pergunta: “Promete amar na saúde e na doença, na alegria e na tristeza?” A resposta é sempre “sim”, dita com brilho nos olhos e zero convicção. A realidade, porém, é outra: basta a primeira febre emocional ou o menor sinal de crise para que um dos dois pule do barco — de preferência sem olhar para trás. O IBGE que o diga.
Dizem por aí, com uma generosidade que meus detratores detestam, que meus textos conseguem a proeza de misturar alho com bugalhos e ainda assim fazer sentido. Quem sobrevive ao segundo parágrafo, costuma entender. Vamos ver se consigo manter o padrão.
Hoje falamos de fidelidade. Mas não a conjugal — essa já morreu com o Orkut. Falo da fidelidade política, essa entidade ainda mais fantasiosa que o amor eterno. E o exemplo do momento atende pelo nome de Marina Silva.
Goste-se ou não dela (e eu, confesso, tenho minhas divergências), Marina é a principal responsável pelo crescimento do PT no Acre. Sim, essa frase machuca egos locais, mas a história é teimosa.
Foi ela quem tirou Jorge Viana do velho PDS (aquele partido que embalou o sono da ditadura) e o empurrou para o PT, lançando sua candidatura ao governo em 1990. Uma transição que, à época, parecia tão natural quanto misturar óleo de mamona com água benta.
O resto virou história: Jorge foi prefeito, governador (reeleito com louvor), senador. Um meteoro político turbinado pela coragem de Marina — que, por isso mesmo, virou figura sagrada no altar petista local.
Falar mal dela? Nem pensar. Era quase pecado capital. Mas, como em todo casamento mal resolvido, bastou o tempo passar para o amor virar indiferença. Ou pior: desprezo silencioso.
Até agora ninguém viu, ouviu ou assistiu a calorosos pronunciamentos do deputado Edvaldo Magalhães ou do ex- Jorge Viana. Ambos passam ao largo deste assunto que estou a colocar no colo deles. Deixam Marina arder na fogueira da desinformação.
Hoje, diante do episódio envolvendo o ICMBio e a Reserva Extrativista Chico Mendes, onde gado foi apreendido e ocupações ilegais enfrentaram a Justiça Federal, o que se vê é um silêncio sepulcral por parte do PT do Acre e de seus aliados, como o PCdoB.
Nem uma nota, um tuíte, uma fala tímida para lembrar que a operação foi determinada por ordem judicial, fruto de ação do Ministério Público Federal. Nada. Sumiram todos. Covardemente.
Aquela velha solidariedade entre companheiros foi jogada na lixeira junto com os panfletos das eleições passadas. Mas não se trata de um acidente: no PT, abandonar os seus quando convém não é falha — é método.
Marina que lute.
* Luiz Calixto é o atual secretário de Governo